sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Morri e voltei à Terra como...

Lembro-me do dia ainda. Acordei às 9:40, não lembrando o que havia sonhado, mas com a certeza de que sonhei, e fui bater um papo com Deus. O dia estava indeciso, ficava nublado e ensolarado em intervalos de vinte e três minutos. Porém, lá em cima, é sempre quente, sempre a mesma temperatura. Isso colabora para ser tudo tão sem graça lá: as pessoas, o ambiente, o modo de viver. Ninguém que chega àquele lugar está acostumado a viver sem ter que resolver problemas ou mesmo sem precisar olhar a previsão do tempo. Se for aquilo que chamam de Paraíso, eu não pretendo voltar.

Quando cheguei à salinha do Cara, como eu O chamava, Ele já imaginava qual seria o assunto que eu começaria, pois não fui a primeira visita do dia a tocar no mesmo. (Se cheguei à sala de manhã e não fui a primeira visita do dia, ficou quase claro que Deus não dorme. Já tentei lhe explicar sobre o que está perdendo, mas não adiantou). Então, sem enrolar, puxei a conversa sobre quando e de que forma eu voltaria à Terra.


Era por volta das 11:15 e o tempo não havia decidido ainda se permaneceria nublado ou ensolarado. Todo mundo, incluindo eu, continuava naquela vidinha de paraíso. O Cara olhou pra mim e, rapidamente, disse que eu não voltaria em forma humana, uma vez que os infelizes, responsáveis pela catástrofe na qual se encontravam, já passavam de seis bilhões. Eu, sentada e em silêncio, pulei de alegria e agradeci. Tudo o que eu precisava escutar: eu voltaria ao mundo normal, voltaria a ser útil.


A questão, portanto, ficou sendo saber de que forma eu voltaria. Deus me deu 24 horas para eu escolher. Meu principal critério para a escolha, a partir daquela notícia, foi o de descer para ser útil aos bilhões de malucos. Como desde plantas até vasos sanitários são úteis à humanidade, a escolha não foi tão simples assim. Por isso, comecei a refletir e aumentar o número de critérios que me ajudariam a voltar ao Planeta dos Macacos. Aquela tarde de terça-feira no Paraíso foi a mais feliz e agonizante das quais passei lá. O Sol decidiu abrir e todas as pessoas ao meu redor estavam pensando comigo, sobre o que eu não parei de pensar.


Na quarta-feira, cedinho, estava eu na salinha do Cara. Ele logo falou que o pedido seria atendido na hora, desde que possível, ou seja, caso eu pedisse algo coerente, desceria no mesmo instante. Com convicção, comecei a falar das minhas pretensões: ser útil à humanidade, primeiramente; ter semelhantes, para não me sentir fora do contexto, nem objeto de mais estudo; conhecer o mundo dos reclamões, o que pensam e o que tornam realidade; não ter que dar explicação sobre de onde vim. Deus, então, transformou-se nesta caneta Bic. Um dia, quando você perder todas as suas canetas, eu surgirei em suas mãos.


"O mundo, bola tão pequena, me dá pena mais um filho, eu esperar. E o jeito que eu conduzo a vida não é tido como forma popular..." (Zélia Duncan)

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