quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Faça VOCÊ uma marca

(né, F. Petit?)

A tarefa era a seguinte: "Criem uma campanha de mídia impressa completa, redondinha e criativa. Terão quatro meses para isso". E passou a primeira semana, o primeiro mês, o segundo, o terceiro, uma ideia pior que a outra. Mas faltava muito ainda, ia dar tempo de tudo. Confessemos: publicitário que se preze adora dead line (e briefings e brainstormings e pensar que fala inglês e...), criatividade mesmo é aquela que vem na véspera do prazo final, o resto é trabalho árduo.

Até que... para tudo! A encrenca toda estava no logotipo do cliente, não nas sugestões de propaganda. O problema todo era a assinatura, o símbolo, a fonte, a cor. Não, a ideia não. A ideia estava boa. (Lembrarei por muito tempo a frase que demorei a captar: "garotinha, seu anúncio está uma merda... mas a ideia é boa, hein."). E agora só faltava um mês, o último, para criar a tal campanha e, agora, também o logotipo.

Este era o cliente:
Clínica Renove Medicina & Bem-Estar. Especializada em tratamentos estéticos corporais e faciais. Quer passar ao público modernidade, qualidade, confiança e know-how.
Público: Masculino e feminino, classes A e B, 20 a 40 anos, urbano, vaidoso, esportista, moderno, descolado, empresário, bem-sucedido.

O logo:



Dead line nos encarando: mais três semanas.

Ocorreu mais ou menos nessas palavras:

"Socorro! Onde enfiaremos dois arabescos e uma borboleta? Como colocaremos tantos símbolos num anúncio só? A borboleta está presa na letra O, temos que libertá-la (para a empresa deslanchar, não pode ter uma 'gaiola' na própria logo, né? Com a exceção das agropecuáias)! E esse roxo? E o público masculino? Já basta a borboleta para espantá-lo. E essa fonte, o que tem a ver com a modernidade que o cliente quer passar? E essa coloração vazada? É pra ninguém saber o que está escrito? E essa assinatura do tamanho de um parágrafo (clínica-renove-medicina-e-bem-estar)? (O máximo de palavras que podíamos acrescenatar às propagandas era "vá até", caso contrário, era texto demais). So-corro."

Inspira... expira... e surge o novo logo:


Ufa, agora sim: dois tons de verde, para não discriminar o público masculino, fontes modernas, visíveis, apenas uma logomarca (as folhas, que são em tons mais claros, propositalmente, para remeter à ideia de "renovação", folhas novas), menos texto (alguém sentiu falta da palavra "clínica"? Descansa em paz). Tudo mais clean, mais up (mais inglês...). Enfim, meu logo, meu filho.

Mas a obrigação era fazer a campanha, corram, têm duas semanas agora. Vamos fazer a listinha das peças que ainda temos que criar: todas. So-corro. Só-corro. Várias por dia. Até que me volta à frase das sextas-feiras de orientação: "garotinha, seu anúncio está uma merda... mas a ideia é boa, hein.". Ufa, de novo. Temos onde pegar referências, mexe nos rabiscos, vasculha tudo, tem ideia lá. Corram, uma semana. Pronto, tudo impresso. Lindo, "verde, que é a cor da estação".

Essa é a história de um logotipo, só ele, sem falar no conceito, sem falar na campanha, sem falar. Como apresentá-lo ao cliente? Não sei, ainda não o fiz. É assunto delicado xingar o filho dos outros para defender o seu.

E o post de hoje vai para um tal de Eloy Simões, nosso leite condensado, caramelizado, com flocos crocantes, coberto pelo delicioso chocolate Nestlé, que deixou escapar um "garotinha, bela campanha", afirmando que a missão tava cumprida e bem realizada.

Errata: criatividade é trabalho árduo.

"Viver não é necessário. Criar é necessário." (Fernando Pessoa)